Na manhã do último Domingo, dia (18), aconteceu no espaço Arena das Águas, localizada na Vila Cidadã, a Roda de Conversa sobre a Crise Hídrica.
No Brasil, a falta de água tornou-se mais evidente a partir do ano de 2014. Nesta ocasião, a região Sudeste foi a principal afetada. Porém, o semiárido sofre com a seca da água a décadas. A atual crise hídrica do Brasil é considerada a pior da história. A roda de conversa, mediada por Luiz Carlos (FNCBH), buscou dialogar com entre representantes de comitês de bacia, órgão públicos e sociedade sobre soluções hídricas para este problema nacional.
Maria do Carmo (CAESB), iniciou o bate papo destacando o cenário no Distrito Federal e o foco na ampliação do sistema de abastecimento e saneamento. Segundo ela, a CAESB , em sua origem já tinha uma a gestão e proteção de mananciais, bem como o monitoramento dos recursos hídricos de nível de água nos rios e chuvas. A partir de 2015, observou-se uma intensificação na variação das chuvas e a redução substancial das reservas de água, mas não foi possível prever a gravidade da crise. Diante deste cenário, de acordo com Maria do Carmo, a organização buscou atuar com transparência e publicizar a crise, e precisou implantar o racionamento da água, mas também buscou investir na interligação dos sistemas de abastecimento de água. Ela destacou também a necessidade do uso consciente da água, ampliar as discussões sobre aprimoramento da alocação e do monitoramento dos recursos. E na discussão da crise hídrica todos os usuários deveriam ser ouvidos, sendo fundamental também a articulação institucional para conscientização da população sobre os usos da águas.
O segundo participante, Sérgio Razera (PCJ-Cantareira/SP), em sua fala, destacou que a região das bacias hidrográficas do rios Piracicaba, Capivarí e Jundiaí é ela pequena. Sendo apenas três rios, acrescentou Sérgio, mas tem uma grande importância econômica, tendo em vista o número de indústrias instaladas na região, representando 5% do PIB nacional. As águas da bacia abastecem também a região metropolitana de São Paulo. É uma bacia pequena mas tem uma posição estratégica. Relatou ainda, os quase 25 anos de história do Comitê de Bacia do PCJ em se reunir para discutir gestão, tendo em vista que “lá a crise é o tempo todo, e a vazão na época de estiagem é muito baixa”. Depois da década de 70 a bacia PCJ começou acrescer muito, em número de populacionais e de demanda de água, e para o enfretamento dessa situação o CBH buscou ampliar sua atuação e atualmente, há instaladas e funcionando 12 Câmaras Técnicas (CTs) e mais de 700 técnicos que participam de reuniões do Comitê. Com a crise hídrica, o Grupo de Trabalho de Estiagem intensificou as reuniões buscando estratégias para resolver a questão de forma negociada, usando o conceito de solidariedade regional, “não basta olhar para o meu umbigo e resolver meu problema”, ignorando os demais, isso foi um processo de “aprende pela dor”. Como estratégias foram adotadas o controle das perdas pelo saneamento, a instituição de uma política de proteção dos mananciais, o desenvolvimento dos planos de segurança da água, “pois é preciso pensar em o que fazer se acontecer de novo”. Sérgio ainda destacou que o PCJ trabalha com planejamento de suas ações desde 1993, e que a gravidade da crise “não foi falta de planejamento, foi falta de investimento para implementação do planos previsto” por falta de recursos e investimento. Para finalizar, ele acrescentou que as CTs estão trabalhando fortemente, objetivando desenvolver e atualizar o planejamento e planos de ação “para saber quem faz o quê”, pois, “precisamos aprender a viver com menos água no nosso dia a dia”, e é preciso estar preparado.
O Presidente do Piancó Piranhas Açu (RN), Paulo Varella, iniciou afirmando que estar neste ambiente de debate “é viver o verdadeiro espírito da 9433/97, [Lei das Águas], descentralizada e verdadeiramente participativa. E lançou como ponto de reflexão: “como crise hídrica em um país que dispõe de 1/5 da água doce do mundo?”, e que “gera em seu próprio território cerca de 13% da água doce do mundo?”. Continua ele destacou as “crises de várias ordens no Brasil”, seja por excesso ou escassez. E lembrou que a vazão de água no semiárido é “zero, durante oito meses, essa é a certeza”. Eu não venho outra maneira de enfrentamento que não seja trabalhar no comitê de bacia. A crise do semiárido “se espalhou pelo sudeste”, e percebe-se que a infraestrutura e os instrumentos de gestão “não foram suficientes”. As lições que podem ser aprendidas: a necessidade de trabalhar em conjunto, principalmente em momento de crise; aumentar a participação dos comitês nas decisões políticas; e a consciência de uma solidariedade hídrica, discutindo-se “quais ações devem ser priorizadas”. Varella, destacou que apesar da severidade da crise, comprometendo o funcionamento de escolas e hospitais, infelizmente não conseguimos nenhum nível de subsídio para que as pessoas pudessem sobreviver”. E para finalizar afirmou: “o comitê de bacia tem que ser os olhos, e mais o coração da bacia, e temos que aprender com a crise”.
Rosany Carvalho, da Associação dos Produtores e Protetores da Bacia do Descoberto, destacou a importância da bacia para o abastecimento do Distrito Federal. E reforçou as falas dos membros, lembrando que “a crise traz uma risco e traz oportunidades, e como moradora dessa região e produtora rural e vejo que tivemos oportunidades que há anos a gente vem pedindo, solicitando e não conseguia”, no que se refere a um olhar mais atencioso para a região por causa da crise hídrica. Ela esclareceu que a bacia tem a uma vocação rural, tendo em vista que mais de 40% do itens de horti-fruti-granjeiros saem da região, e portanto, centenas de núcleos familiares que dependem da produção rural para sobreviver. Rosany relatou que desde 2016, os produtores rurais sofreram restrições de uso da água, sendo assim, e enfrentaram dificuldades para pagamentos das dívidas contraídas para o plantio, tendo ainda que lidar com a crise social, pois “viram o produtor rural como vilão da crise hídrica, e não é na verdade”. A crise “foi um momento da gente sentar e ver o que cada um pode fazer”, disse Rosany, e ainda, “a crise não é responsabilidade só do Estado ou da sociedade, é uma responsabilidade de todos, não só da área urbana, ou só da área rural”. Este panorama levou à participação maior do produtor nos debates e nos comitês de bacia, e também o apoio de órgão do governo para ações de reflorestamento. Finalizando, ela reforçou a importância da gestão do território e a avaliação da capacidade hídrica de cada bacia antes da implantação de novos núcleos habitacionais, “devemos ver lembrar que a água é um bem finito e está escassa, então nós temos que ter responsabilidade e também cobrar a responsabilidade do Estado sobre o que pode ser feito em cada bacia”.
O último membro da roda de conversa, Rafael Mello (ADASA DF), buscou contextualizar que desde de 2014 houve queda na precipitação, e se as reduções de cada ano fossem somadas seria como se estivéssemos se a região tivesse perdido um ano hidrológico. Destacou também que foram necessárias muitas reflexões que levaram ao entendimento de que os investimentos em infraestrutura hídrica. E ainda que “vários planos que não foram executados, e várias situações que só vieram acontecer quando faltou água”. Segundo Rafael, toda crise tem esse roteiro: se tem a chuva, a falta de investimento, tem o crescimento populacional, mas precisou o DF passar por tudo isso para que viessem bom avanços”. Após a crise, a aplicação de tarifas de contingência e o apoio da mídia, percebeu-se uma conscientização da população; da realização de obras e a integração dos sistemas de abastecimento. Também foram destacadas a necessidade de utilizar melhor a água nas residências, pensar em reuso, e aproveitamento da água de chuva. E deixou como mensagem: “com os erros e com a crise a gente cresce, é importante não deixar passar as oportunidades”.
Durante a roda de conversa foi realizado o registro visual dos principais termos destacados pelos membros da mesa.
Matéria produzida por Fernanda Matos