O dia 8 de março tradicionalmente é marcado como Dia Internacional da Mulher, chamando a atenção para a importância do papel que a mulher exerce na sociedade, papel este que deve ser valorizado e reconhecido.
Não, não é sobre isso que queremos falar.
Podemos iniciar em 1992, com a Declaração de Dublin sobre Água e o Desenvolvimento Sustentável, considerada um marco, que entre 4 princípios, ressalta formalmente o papel da mulher na gestão da água: “as mulheres desempenham papel essencial na provisão, no gerenciamento e na proteção da água”. A partir de então vários documentos internacionais apontam a relevância e valorização da mulher, em especial para a gestão e conservação das nossas águas.
Quase 10 anos depois, a Aliança de Gênero e Água ressalta: “a gestão de recursos hídricos deve basear-se em uma abordagem participativa. Ambos, homens e mulheres, devem ser envolvidos e ter o mesmo direito de expressão no gerenciamento do uso sustentável dos recursos hídricos e na distribuição de seus benefícios. O papel das mulheres nas áreas relacionadas à água precisa ser reforçado e sua participação ampliada” (Bonn 2001).
Apesar destes e tantos outros documentos e princípios, a Política das águas no Brasil e o Sistema Integrado de Gerenciamento, instituídos pela Lei 9433/97 (todos os estados brasileiros possuem legislação especifica de recursos hídricos) que prevê a participação de representantes do poder público, da sociedade civil e dos usuários de recursos hídricos, não aborda em seus princípios a equidade de gênero, e tem sua agenda muito voltada às soluções técnicas, de engenharia, onde os homens ainda estão mais presentes do que as mulheres.
A participação e representação das mulheres, considerando os mais de 240 Comitês de Bacias Hidrográficas instituídos no país e os diversos Conselhos, é muito pequena. A representação formal das mulheres nestes colegiados ainda é um lento processo de conquista, que precisa ser incentivado e ampliado.
Exemplo destas conquistas, em 2018, o Brasil sediou o 8º Fórum Mundial da Água, onde o tema água e gênero teve destaque na programação do evento. Com a articulação do Processo Cidadão, em todas as sessões a diretriz era de que deveria ser observada a equidade de gênero, o que foi uma grande conquista e deve marcar os próximos Fóruns Mundiais.
A mulher, mais do que ter reconhecimento, deve ter o protagonismo para a efetiva gestão das águas. Mudanças de paradigmas nem sempre são fáceis, mas são os desafios que nos impulsionam para a frente, nos conectam em um mesmo objetivo.
Esta conexão, o compartilhamento de experiências e o estimulo a novas iniciativas é a oportunidade que a REBOB MULHER nos apresenta. Agora, temos que nos apropriar deste espaço e avançar!
“A água é feminina. A mulher tem uma intensa relação com a água
e tem que ser ouvida na tomada de decisões”.
Maria Lúcia Góes Brito, Mãe Lúcia (in memoriam)