O título me pareceu grande, outra hora estranho, mas carregado de uma imensa vontade de escrever sobre mulheres e água.
Escolhi fazer uma abordagem apoiada do lugar que ocupo e inspirada pelo meu último trabalho que realizei no semiárido da Bahia, além de uma reportagem que me chamou atenção, no dia 04 de abril de 2019, intitulada “Mulheres garantem a água das famílias numa das regiões mais secas do país”
O lugar que ocupo
Aprendi que devemos começar do começo...e o começo dessa militância pela água teve início em 2013, quando tinha acabado de voltar de um mestrado e fui convidada a entrar no Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das Contas, ainda sem entender meu papel, aceitei o desafio de ocupar uma cadeira de suplente no seguimento sociedade civil, representando uma Instituição que ajudei a fundar em minha cidade natal. Pronto, ali estava eu, compondo o time de duas mulheres no comitê. Fui apoiada e estimulada a participar cada vez mais, a plenária sempre me escolhia para representar o comitê nos eventos nacionais. Na renovação dos membros, passei a titular, fui convidada a ser Presidente e novamente, após dois anos fui reconduzida ao cargo e aqui estou, como a primeira presidente mulher nos 10 anos de fundação do comitê, sendo colaboradora da REBOB Mulheres, o que não me envaidece, mas amplia minha voz na luta Pela Água.
O que me inspirou a escrever esse artigo
Como Bióloga, ter trabalhado por 04 anos num Projeto lindo no semiárido, um projeto que teve como objetivo a sustentabilidade da cadeia produtiva do umbu, com estímulo ao plantio de umbu e reflorestamento da caatinga com estímulo a participação de jovens e mulheres. Durante todo esse tempo convivi com a escassez de água em vários momentos, vi de perto Dona Ana da comunidade do Poço da Pedra separar um balde de água e me levar até o banheiro para que eu tomasse banho e pudesse amenizar um pouco o calor de mais um dia de sol na caatinga. Ah! Teria muitas histórias sobre não ter água, ou sobre ter água somente da chuva nos poucos meses do ano que essa benção chega no sertão.
Para completar minha inspiração e aumentar minha vontade de fazer mais e lutar pelo acesso e distribuição equitativa de água, assisti a uma reportagem sobre mulheres que lutam por água como forma de garantir o abastecimento e a dessedentação dos animais, prioridade que está na Lei das Águas, mas ainda escassa para muitas mulheres.
Sobre isso, busquei saber na Bahia, quantas são as mulheres que estão à frente dos comitês de bacia, espaço colegiado que integra o SEGREH, Sistema Estadual de Gestão de Recursos Hídricos e deveria ser símbolo de luta Pela Água.
A Bahia possui 14 comitês de bacia hidrográfica, duas mulheres estão à frente como Presidente, 05 como Vicepresidente e 05 como secretárias; 04 comitês tem apenas homens na diretoria. Vale destacar que existem comitês que têm mais de uma mulher na diretoria.
Talvez fiquemos inquietas com esses números, mas para fazer valer o título desse artigo, fiquei curiosa por saber quantas são as mulheres que lutam para ter água.
Segundo dados do relatório produzido pela BRK Ambiental (2018), o déficit de mulheres que não tem acesso regular à água tratada chegou a 27,2 milhões em 2016. Isso indica que uma em cada quatro mulheres ou não tinha acesso à água tratada ou não recebia água tratada com regularidade. Essa proporção alcançava uma a cada duas mulheres nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Esse Nordeste que me orgulha e me motiva a querer ser a voz dessas mulheres que lutam por água e a estimular mais mulheres a lutar pela água como forma de reduzir o número das que não têm acesso e aumentar o número das que ocupam os espaços que garantem esse acesso.
Fica uma reflexão em forma de questionamento. Como nos fazer mais presentes nos espaços de decisão?
Encerro minha breve fala com as palavras de uma defensora das águas e entusiasta da participação da mulher nos espaços de decisão e para que todos e todas saibam que lugar de mulher é a frente dos grandes movimentos em prol de um mundo melhor com equidade de gênero e respeito às diferenças sem perder a doçura das palavras quando dizia que:
“Somos água e água não fica parada..água corre”
Ekedi Maria Lucia Góes de Brito
Mãe Lucia (ins memoriam)
A quem dedico esse artigo e dedicarei todas as minhas falas em prol do acesso a água potável e saneamento, como preconiza o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável ODS 6 Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.