Simone Aparecida Quiezi
Vania Inácio Costa Gomes
No texto anterior “Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente: um breve histórico”, abordamos a organização das Conferências no munícipio de Lidianópolis, no estado do Paraná. Lidianópolis é um dos 399 municípios do estado do Paraná, localizado na região centro-norte e, de acordo com dados do IBGE (2010), sua população total é de 3.973 habitantes, com autodeclaração de indígenas e negros, porém, as cores branca e parda são majoritárias. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,680. Ainda sobre as conferências, cabe destacar que são uma estratégia de mobilização de estudantes, adolescentes e jovens de todo o país visando promover a reflexão, o desenvolvimento de estudos e pesquisas, além de estimular a proposição de ações e projetos no contexto da temática socioambiental. É um processo pedagógico dinâmico, democrático e participativo.
Como dissemos, estivemos e estamos na organização de todas as Conferências. Enfatizamos que ao observar os membros das comissões organizadoras das seis edições da Conferência, constata-se que são sempre os mesmos, com raríssimas alterações e as mulheres são predominantes. Não teria espaço aqui para apresentar as valiosas trajetórias de cada uma delas, mas o reconhecimento é necessário.
Durante essa trajetória de experiências com atividades voltadas para o meio ambiente, no âmbito educacional e social, nós tivemos contato com muitas mulheres, dentre elas, as mulheres ribeirinhas (figura 1)¹, moradoras da comunidade de Porto Ubá, distrito de Lidianópolis. Pescadoras que fazem das águas do rio Ivaí, seu meio de sustento. São mulheres que ao lado de seus esposos, dispõem-se a enfrentar os desafios do rio para praticar a pesca profissional. Elas têm a carteirinha de pescadoras profissionais como seus esposos, dominam a prática da pesca como os homens pescadores, e no dia a dia, fazem os mesmos trabalhos que eles, porém, quando a questão é a participação nas ações da comunidade, elas sempre são deixadas à margem das atividades.
No caso da Conferência Escolar Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, a Colônia de Pescadores Z-17 e a Patrulha Ambiental de Porto Ubá (PARI), sempre se fazem presentes, porém sem a presença dessas mulheres pescadoras.
Essas demonstrações de desigualdade, comprovam o quanto as mulheres são excluídas das ações do cotidiano que garantem um lugar de fala para seus envolvidos. É uma desigualdade sustentada por uma construção cultural e social fortemente enraizada no seio da comunidade, uma vez que, ao conversar com essas mulheres, percebe-se que elas não se reconhecem como pescadoras, ou não percebem que são deixadas de lado pelas ações que a Colônia de Pescadores desenvolve ou participa na comunidade. É um desafio fazer com que se imponham, conquistem seu espaço e deem voz às suas ideias e posições perante os tantos assuntos debatidos sobre a pesca, a defesa da água e da vida em torno do rio, bem como em suas lutas diárias.
Nessa busca por conhecer os espaços ocupados pelas mulheres na comunidade em que vivem e reconhecer as suas invisibilidades impostas por uma cultura patriarcal machista, com o intuito de reverter a situação para o quadro de construção da visibilidade feminina, nós, vivenciamos também a experiência diária das mulheres agricultoras e empreendedoras, produtoras de café (figura 2), criadoras de gado leiteiro e comercializadoras do leite junto à laticínios, fabricantes de produtos artesanais ou produtos alimentícios caseiros para o comércio local². Foi possível evidenciar que os espaços ocupados pelas mulheres, são mais dinâmicos e a preocupação com a preservação dos recursos naturais e a diminuição dos impactos ambientais são muito maiores do que nos espaços ocupados pelos homens, assim como se identificam subterfúgios por elas criados para driblar a imposição do poder masculino, sobreviver e ganhar visibilidade humana e social.
Por que entrelaçar a nossa trajetória às da Conferência Escolar Infantojuvenil pelo Meio Ambiente? Talvez porque uma é fruto da outra, nesse processo de amadurecimento enquanto mulher, mãe, professora, militante, resistente e persistente em uma sociedade que não nos garante o espaço devido para a voz e a vez. Ambas são conquistadas e se mantém por meio de lutas diárias, intensificadas a partir da década de 1990 e permanentes, desde então. (figura 3). Mulheres e água se complementam na busca e garantia da existência saudável e sustentável.
Simone Aparecida Quiezi, Mestre e doutoranda em História pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR. Possui graduação e especialização em História (FAFIMAN), Pedagogia (UEM), Normal Superior (UEM), Geografia (UEPG) e Filosofia (UEL). Professora da Educação Básica da Rede Estadual do Paraná. Integrante e pesquisadora do Laboratório de Estudos Históricos do Contemporâneo (LABEHCON/UEL). Integrante e pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Educação e História Ambiental - LEHA/UEM. E-mail: simonequiezi@gmail.com. https://orcid.org/0000-0002-3428-5839.
Vania Inácio Costa Gomes, Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, doutoranda em História pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR. Possui especialização em Ensino de Filosofia para o Ensino Médio. (UEPG) Possui graduação em História (FAFIMAN), Geografia (UEPG) e Filosofia (UEL). Professora da Educação Básica da Rede Estadual do Paraná. Integrante e pesquisadora do Laboratório de Estudos Históricos do Contemporâneo (LABEHCON/UEL). E-mail: vaniaicg79@gmail.com. https://orcid.org/0000-0002-9173-0222
¹As imagens utilizadas neste trabalho estão amparadas pelo Parecer nº 5.333.987, aprovado em 06 de abril de 2022, Comitê de Ética da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e compõem o acervo pessoal de pesquisa de Simone Aparecida Quiezi.
² Artigo escrito fundamentado na pesquisa de campo e metodologia da história oral, em processo para publicação.
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