top of page
Sumário da água

Blog da REBOB

Água e seus significados

  • Foto do escritor: ROGÉRIO TORRES NUNES
    ROGÉRIO TORRES NUNES
  • 24 de abr.
  • 4 min de leitura

Dulce Tupy

ree

“Água é um elemento essencial à vida”. Assim se inicia a cartilha “Ciranda das Águas”, editada pela Itaipu Binacional, através do Programa “Cultivando Água Boa”, no âmbito das comemorações da Década Brasileira da Água (2005-2015). Promovida pelo Ministério do Meio Ambiente e pela ANA (Agência Nacional de Águas, durante o governo Dilma Rousseff, a cartilha foi impressa em papel reciclado e traz reflexões que perduram até hoje.


Na Grécia Antiga (ano 600 a.C.) o sábio Tales de Mileto, considerado o “Pai da Medicina”, afirmava que “a água é a origem de todas as coisas”. Tales pensava que a Terra flutuava sobre a água. Na Renascença, Leonardo da Vinci considerava a água o veículo da natureza, sangue do planeta. Segundo da Vinci, a Terra teria emergido da água.


Tanto na Mesopotâmia como no Antigo Egito (5.000 a.C.) há registros de canais de irrigação, inclusive a primeira represa de água teria sido construída pelo Faraó Menés (2.900 a.C.) em Menphis. Na civilização egípcia, o Rio Nilo era chamado de “Rio Deus”. O Nilo foi responsável pela densidade demográfica e miscigenação de culturas em suas margens. A própria palavra homem vem de húmus, terra molhada!


Na Roma antiga, no primeiro século da Era Cristã, foram construídos luxuosos banhos públicos na capital do Império Romano. A construção desses banhos públicos dava prestígio aos imperadores. Quatro aquedutos da cidade são considerados verdadeiras obras-primas da engenharia da época (312 a.C) e funcionam até hoje.


Nas diversas culturas e crenças espirituais, os usos das águas e suas representações são múltiplas; vão desde a simbologia do nascimento, renascimento e purificação das religiões cristãs até metáforas de forças de guerra, de proteção e rituais da morte. Sua imagem mais comum é a da pureza, força libertadora do pecado e da sujeira. A água limpa o corpo e esse poder de purificação a coloca em um nível simbólico e sagrado.


Há indícios da água como instrumento de adoração na Europa Ocidental, na Idade do Bronze (3.000 a.C), mas remontam também ao período Neolítico (8.000 a.C.). No cristianismo, a imersão na água simboliza o batismo, renascimento e libertação do pecado; a água benta protege o cristão dos espíritos do mal. No hinduísmo, as águas são sagradas: o rio Ganges é como se fosse o paraíso, para quem se banha nele ou tem suas cinzas espalhadas na superfície do rio. Nos rituais funerários do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do islamismo, a água sempre está presente.


O shintoísmo, do Japão, é conhecido por seu culto ao espírito da água ou “sujin”, encontrado nos lagos, mares, fontes e poços, identificada como serpente, dragão, peixe, tartaruga ou mesmo uma bactéria que purifica as águas poluídas. Com ênfase na pureza espiritual, o shintoísmo considera a natureza sagrada da água e cultua montanhas, ervas, rios, vales, relâmpagos, vento, encruzilhadas, ondas, árvores, rochas, chuvas e trovões, entre outros fenômenos naturais. “Susanoo” é o deus dos oceanos e tempestades. Nos templos, é comum um tanque de água, onde os fiéis se lavam, para se purificar. O “misogi” é a purificação do corpo e da lama por meio da água. Duas vezes ao ano, realiza-se uma purificação solene, onde são lançados nos rios ou no mar tiras de pano ou papel branco, símbolos das impurezas.


No Brasil, Iemanjá é a rainha do mar, uma das divindades mais cultuadas nas religiões afro-brasileiras, umbanda e candomblé. Iemanjá é a “Orixá” (entidade) ligada à água e aos oceanos, a Princesa de Aiocá. Identificada no sincretismo com a religião católica como Nossa Senhora dos Navegantes, Iemanjá também pode ser chamada simplesmente Maria. Protetora dos pescadores, é a mãe de todos os Orixás. Por suas energias ligadas à fecundidade, simboliza o reino misterioso das águas. Seu nome vem do yorubá e significa “mãe cujos filhos são peixes”.


Cultuada no dia 31 de dezembro, na virada do ano, em várias localidades do litoral brasileiro, para Iemanjá são feitas oferendas nas praias - flores, perfumes, velas, espelhos. Mas no calendário da umbanda e do candomblé Iemajá tem seu dia consagrado em 2 de fevereiro, especialmente na Bahia. Porém, nos cultos afro-brasileiros existem outros orixás ligados às águas: Oxum, Obá, Euá, Logunedé, Oxumaré e Nana. A data da celebração da Oxum, divindade das cachoeiras, é 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Conhecida como divindade do amor, Oxum adora as águas calmas e está dentro de todas as mulheres. Nos ilês, templos afro-brasileiros, há outras entidades também ligadas à água: o caboclo Ogum Beira-mar, a sereia do mar, a pomba-gira Mara e os marinheiros.


Na cultura indígena, Iemanjá é chamada de Janaína ou Iara, a entidade que vive nas águas, matas e florestas. Iara atrai os índios com seu canto semelhante ao do uirapuru e sua face branca como a lua, despertando uma paixão que mina suas forças, levando-os ao fundo dos rios e lagos. A mitologia dos índios Ianomâmi diz que o Grande Pai gerou a mulher e seus filhos nas águas e lhes deu cachoeiras e terras férteis para habitar, sobreviver e se multiplicar. Para todas as nações indígenas, rios, cachoeiras e mares são um único corpo, como o sol, a lua, as árvores e os animais.


A relação entre água e vida vem desde o útero materno. A água está presente em todas as fases da humanidade, da criação até a morte, como fonte de vida ou destruição, como no caso das tempestades, enchentes e tormentas no mar. A água está no nascimento, renascimento, purificação, guerra e rituais de morte. Então, temos que protegê-la, preservá-la para sempre. No encerramento do 9º Fórum Mundial da Água, recentemente, em Dacar, no Senegal, foi apresentada a declaração intitulada “Acordo Azul”, com o objetivo de buscar o acesso universal à água e saneamento. A declaração proclama também a necessidade das garantias de financiamento e governança inclusiva, destacando as mulheres, além de fortalecer a cooperação. Assim, caminhamos, passo a passo, rumo à inclusão definitiva, quando poderemos declarar então: Ave, água! Que seja eterna enquanto dure.



Dulce Tupy, é Jornalista, edita o jornal O SAQUÁ e dirige a TUPY Comunicações. Cofundadora do Consórcio Intermunicipal Lagos São João, é membro do CBHLSJ. Ativista ambiental. Membro da Rede da GWA e outras ONGs.

1 comentário


VIVIANE  MORO
VIVIANE MORO
16 de set. de 2024

Que máximo essa matéria. Muito obrigada!! Estava procurando algo para falar da sacralidade da água com meus alunos de 6º ano. 💧

Curtir
FOOTER-STAKEHOLDERS-SITE-REBOB.jpg
logo-rebob-rodapé.png

A Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas - REBOB é uma entidade sem fins lucrativos constituída na forma jurídicos de Associação Civil, formada por associações e consórcios de municípios, associações de usuários, comitês de bacia e outras organizações afins, estabelecidas em âmbito de bacias hidrográficas.

  • Telegram
  • LinkedIn App Icon
  • Wix Facebook page
bottom of page