Dalva Mansur
Recentemente, muitas mulheres e algumas instituições veem me pedindo para falar sobre nossa posição como gestora em comitês e conselhos, ligados as águas e ao ambiente.
Conte um caso, fale como foi, explique como chegar aonde você chegou. Mas eu não fiz nada de mais, eu estudei, trabalhei e trabalho muito até hoje, escrevi bastante, procurei entender o que era importante para a população, defendi e defendo até hoje a preservação, procurei me cercar de pessoas que acreditam nos mesmos valores que eu acredito, e pensei muito em como deixar o mundo um pouco melhor para a próximas gerações dentro das minhas possibilidades.
Algumas vezes corri risco, as vezes desagradei a alguns interesses, em certos momentos tive que parar e mudar de rumo, mas nunca renunciai à ética e do amor por tudo que venho fazendo em minha vida.
Cada problema transformei em desafio, cada dúvida busquei informações e conhecimentos com profissionais que sempre me ajudaram, sempre tive uma certeza, buscar fazer o melhor, cuidar das pedras do caminho e garantir, que se um dia precisasse fazer o caminho de volta seria bem recebida por aqueles por quem eu passei e deixei um pouco do meu conhecimento, das minhas obras e da minha atenção.
Brigas e desafetos, todos temos e eu nunca me frustrei sofrendo calada, sempre revidei com educação, mas com firmeza e as vezes mostrando a minha força. Usei muito a minha intuição feminina, afinal águas são elementos femininos, e nada mais importante para quem vive na natureza como eu que seguir a intuição e a sensibilidade que a natureza nos dá.
Foi difícil? Será difícil? claro que sim não existe vitória sem disputa alguém sempre vai querer fazer o que você está fazendo de forma correta, mas enquanto algumas pessoas buscam aprender para fazer até melhor, outras buscam atrapalhar, ou simplesmente invejar.... Não há problema, com o tempo aprende-se a transformar os olhares de inveja em olhares de amor. É só continuar fazendo a coisa certa. Quanto aos homens adoro conviver com eles, aprender, descobrir como pensam e como erram sempre pensando que estão certos. Confesso mulheres, eu não seria nada sem eles, tanto os que me auxiliarem quanto os que me atrapalharam o caminho. Eu continuo na minha muito ativa vida de defesa dos rios, lagoas e suas matas. Converso com as montanhas e me aqueço ao sol. Mas não esqueço minha fé em Deus e na ciência quando aliada a ética.
Em toda a minha vida profissional fiz aquilo que acreditava ser importante e nisto fui privilegiada, mas também abri caminho para outras mulheres realizarem seus sonhos. Hoje vejo que nossa luta pela recuperação da lagoa de Araruama colocando a proposta de tomada de tempo seco, criando um canal coletor das águas pluviais em torno da lagoa de Araruama. Este canal coleta as águas pluviais, e aquelas que percolam o solo junto com elas, inclusive as ligações clandestinas das fossas que lançam seus excessos nos canais das águas pluviais. O que era uma ideia de um parceiro na Plenária das Ongs, hoje é uma realidade e está dando resultados e a lagoa está em franca recuperação. Ao lutar por saneamento com colocação de estações de esgotos, onde não existiam nem água em quantidade suficiente, nos fez mobilizar pessoas para acreditar que seria possível.
Em 2003 criamos junto com outros professores e professoras o IPEDS- Instituto de Pesquisas e Educação Para o Desenvolvimento Sustentável buscando trabalhar com pesquisa e educação ambiental em unidades de conservação. Tínhamos algumas unidades de conservação de papel, e era necessário trazer seus moradores para o conhecimento da preservação. Deu certo, criamos uma metodologia de trabalho em educação ambiental. “Conhecer para Preservar” fomos vendo que nosso trabalho dava resultados, continuamos, até então já tínhamos fundado o movimento de mulheres de Iguaba Grande, O IPEDS, do Consorcio Intermunicipal Lagos São João, e estávamos com nosso Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João, criado e pronto para fazer história. Ao assumir que seria necessário criar aterro sanitário e que este seria de empresa particular, estávamos alterando o curso das coisas. Foi necessária muita ciência, e muita coragem, mas não estávamos sozinhas, todo esse trabalho só foi possível auxiliada por mais cinquenta ongs da Plenária de Ongs da Região dos Lagos. Este movimento existe até hoje e atualmente estou na presidência. Havia uma meia dúzia de pessoas que acreditavam, e as outras não tinham proposta viável, mas nós as mulheres do movimento, as Ongs da Plenária, e todos os nossos parceiros, tanto da sociedade civil e usuários quanto da área de governo, enfim pessoas que acreditavam que a mudança de paradigmas seria possível chegamos aqui. Na verdade, nós mulheres fizemos essa luta, e muitas outras, mas não a fizemos sozinhas, eu principalmente sempre tive a perfeita noção que em grupo seriamos mais fortes, e fui colhendo parcerias para criar as mudanças em nossa região. Mudanças que levariam a preservação de nossos lagoas e rios, ações de reflorestamento na busca de manter a biodiversidade e a qualidade das nossas águas. Nosso saneamento, obra de nossa busca na preservação e melhoria da vida para gerações futuras, nossas unidades de conservação, protetoras dos mananciais, tudo isso foi feito em vinte e quatro anos de trabalho, e agora buscamos continuidade, novas mulheres e novos homens dispostos a criar as soluções para as novas situações que deverão sempre surgir.
Dalva Mansur, Professora, de gestão e desenvolvimento gerencial, atua desde 1996 como voluntária, ocupando atualmente a Diretoria do Comitê de Bacia Lagos São João, Como membro do conselho do Consorcio Intermunicipal Lagos São João, participa de inúmeros Conselhos de meio Ambiente, e preside atualmente o IPEDS e a Plenária das Ongs. ipeds.org.br, cbhlagossaojoao.org.br, cilsj.org.br.
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