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Sumário da água

Blog da REBOB

Água de Reúso - O que é e qual sua importância

Você sabe o que é água de reúso e qual a sua importância?



As empresas que utilizam a água de reúso colaboram com a economia de água potável destinada ao abastecimento público, sendo um papel fundamental para o uso devido dos recursos hídricos, sobretudo em tempos de crise hídrica (Leia o Texto “Crise climática e crise hídrica: pautas que caminham lado a lado").

O que é água de reúso?


A água de reúso é a água resultante de processos de reutilização de água (também conhecida como reciclagem de água ou recuperação de água), onde se recupera e trata a água de diversas fontes, dentro de padrões estabelecidos, para ser reutilizada com fins benéficos. Antes de retornar ao ciclo natural da água, a água de reuso é utilizada mais de uma vez.


Se difere do aproveitamento de águas pluviais (água reciclada), o qual caracteriza-se também como um importante instrumento para a gestão dos recursos hídricos, mas que não é considerado água de reúso porque após passar pelo ciclo hidrológico natural, a água da chuva captada terá sua a primeira utilização.


Para o tratamento de efluentes contamos com a Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011, a qual classifica os corpos de água, traçando diretrizes ambientais, e também estabelece condições para o lançamento de efluentes (Leia mais sobre no texto "Gestão de resíduos e efluentes”).


Geralmente a água de reúso é gerada dentro das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) ou Estação para Tratamento de Água para Reúso (ETAR), onde são realizadas uma série de procedimentos físico-químicos, tais como floculação, decantação e filtração. A reutilização da água pode fornecer alternativas aos suprimentos de água existentes e ser usada para aumentar a segurança, sustentabilidade e resiliência da água.

Qual o objetivo dessa prática?


O reúso de água tem como principal foco diminuir o desperdício de água potável. Sobretudo, em face de um cenário atual de escassez hídrica, observada em diversas regiões do mundo, relacionada aos aspectos de quantidade e de qualidade da água.

A busca por alternativas que visam o uso sustentável desse valioso e indispensável recurso natural caracteriza a prática do reúso planejado da água como de extrema importância na sociedade atual, e tenderá a aumentar ainda mais no futuro. Segundo o artigo 2º da Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, as definições acerca da água de reúso são:

  • Água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não;

  • Reúso de água: utilização de água residuária;

  • Água de reúso: água residuária, que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas;

  • Produtor de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que produz água de reúso ;

  • Distribuidor de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que distribui água de reúso ;

  • Usuário de água de reúso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que utiliza água de reúso ;

Tipos de água de reúso


De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, a água de reúso pode ser classificada como de uso direto ou indireto, podendo ser resultantes de ações planejadas ou não.


Reúso indireto: O reuso indireto da água ocorre quando a água que foi utilizada em alguma atividade humana é posteriormente liberada nos corpos hídricos, estando sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico, e utilizada novamente a jusante, de forma diluída.


Caso ocorra essa liberação de maneira não intencional e não controlada, sem tratamento prévio da água, esta é considerada reúso indireto não planejado. Já o reúso indireto planejado ocorre quando os efluentes depois de tratados são descarregados de forma planejada nos corpos de águas, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico.

Reúso direto: O reuso direto da água ocorre de forma planejada, sendo realizados tratamentos prévios e direcionado a água de seu ponto de descarte diretamente até o local de reuso, para algum uso em específico, sem ser liberada no meio ambiente.

O reúso direto é o que ocorre com maior frequência, destinando-se o reúso sobretudo na agricultura ou na indústria. O reúso de água dentro das instalações industriais também é referido como “reciclagem interna”

Água de reúso potável e não potável


Outra importante classificação da água de reúso , segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), é em relação a sua potabilidade, podendo ser água de reuso potável ou não potável.


De forma geral, a água de reúso atualmente não é indicada para substituir a água potável, sendo considerada não potável e portanto utilizada para atividades às quais não é necessária a potabilidade da água.


A água de reúso potável - destinada ao consumo humano - precisa atender a padrões e normas de potabilidade, os quais ainda não estão disponíveis no Brasil. A prática do reúso com fins potáveis já existe em alguns países, como Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Bélgica, Namíbia e Cingapura.


Estudos visam estabelecer a potabilidade para consumo humano da água de reúso , sendo talvez uma realidade nos próximos anos com os avanços na tecnologia de tratamento de águas.


Segundo Ivanildo Hespanhol, ex diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra): “Temos tecnologia para tratar efluentes e transformá-los em água de reúso potável, que a população pode beber com segurança, sem risco nenhum. Mas ainda falta no Brasil uma legislação a respeito” (Revista FAPESP, 2015).


O Prof. Dr. José Carlos Mierzwa, Diretor Técnico do Cirra, aponta que o reúso potável é o encurtamento do processo natural de reciclagem da água, cuja recuperação natural não acompanha a demanda de grandes centros urbanos – onde a taxa de uso e também a deterioração da qualidade da água não permitem que o ciclo natural a restitua em quantidade e qualidade suficientes para que seja consumida. Isso acontece na maioria das regiões metropolitanas do mundo.


Então, ao invés de pegarmos o esgoto e tratarmos ele no nível não tão elevado, com potencial inclusive de contaminar os mananciais, nós podemos usar novas tecnologias de tratamento e com isso encurtamos o ciclo de recuperação da qualidade da água”, completa Mierzwa (Jornal USP, 2021).


Aplicações da água de reúso


As indústrias investem cada vez mais em estações para tratamento de água de reúso . (Fonte: Revista Regional)

As utilizações da água de reúso incluem:

  • Agricultura e irrigação

  • Abastecimento de água potável

  • Reabastecimento de lençóis freáticos

  • Processos industriais

  • Restauração ambiental

  • Uso urbano e residencial

Segundo o artigo 3º da Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, o reúso direto não potável de água abrange as seguintes modalidades:

  • Reúso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área urbana;

  • Reúso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;

  • Reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;

  • Reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos, atividades e operações industriais;

  • Reúso na aquicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos.

O reúso da água pode ser pensado para os diversos usos e ambientes, desde o uso individual e municipal até nas decisões empresariais e de grandes indústrias, sendo estes últimos de uso imprescindível, dado o elevado gasto hídrico.

Brasil utiliza menos de 1% de água de reúso


O Brasil é um país que possui elevado consumo hídrico, e estimativas são que até 2030 o uso de água deverá aumentar em 24%, superando a marca de 2,5 milhões de litros por segundo, de acordo com dados do Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil.

Segundo reportagem do Monitor Mercantil, 2021, o estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) cita: “O Impacto Econômico dos Investimentos de Reúso de Efluentes Tratados para o Setor Industrial”, de 2018, menos de 1% da oferta de água no país provém de reúso de efluentes tratados. A meta proposta pelo Governo Federal é que o reúso não potável direto no Brasil alcance 13 m³/s até 2030.


Enquanto isso, em Israel, país que convive com a escassez desde sua origem, 70% da oferta vem da reutilização de efluentes. Estima-se que o reúso de água não potável seja de 2m³/s, vazão ínfima perto do total da água retirada no país, 2.083 m³/s segundo dados do estudo Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, de 2018.


O reuso no Brasil ainda se apresenta como escasso. Empresas de saneamento do estado de São Paulo e do município de Campinas, SABESP e SANASA, respectivamente, mostram as maiores atuações nesse âmbito.


O Brasil possui o chamado Projeto AQUAPOLO, o qual segundo tal, se configura como o maior empreendimento para a produção de água de reúso na América do Sul e um dos maiores do mundo, resultado de parceria entre a GS Inima Industrial e a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O projeto fornece água de reuso para o Polo Petroquímico de Capuava e indústrias da Região do ABC Paulista, e foi desenvolvido como uma solução para gestão hídrica das mudanças climáticas. Tem capacidade de produzir até 1.000 litros de água de reúso por segundo, um volume equivalente ao do abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes.


Centro de operações do projeto AQUAPOLO (Fonte: http://www.aquapolo.com.br)

Entretanto, muito ainda há de ser feito para a melhor estrutura de produção de água de reúso no território brasileiro, sobretudo nas áreas de maior estresse hídrico.

Sustentabilidade e o futuro da água de reúso

O reúso da água em larga escala nas atividades que mais demandam o consumo de recursos hídricos, como na agricultura e na indústria, faz-se extremamente necessário. Devemos pensar em um futuro onde a sustentabilidade dos recursos hídricos hídricos e a produção de água de reúso sejam pautas efetivas nos empreendimentos, já que o tema é urgente.


A edição de 2017 do Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água das Nações Unidas, intitulada “Águas residuais: O recurso inexplorado”, demonstra como a gestão aprimorada de águas residuais gera benefícios sociais, ambientais e econômicos essenciais para o desenvolvimento sustentável e é essencial para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.


Ao promover a racionalização e conservação de recursos hídricos, a água de reúso se configura como instrumento de regulação da oferta e da demanda da água. A prática de reúso de água reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos para o abastecimento público. A degradação de mananciais eleva os custos de tratamento de água e, portanto, a água de reúso reduz os custos associados à poluição e contribui para a proteção do meio ambiente e da saúde pública.


O Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e a The Nature Conservancy defendem que estruturar um programa de proteção de mananciais, sendo estas áreas produtoras de água e a base do abastecimento público, é uma medida essencial e estratégica na gestão dos recursos hídricos.


O aumento do reúso da água e a proteção dos mananciais vão refletir diretamente na diminuição de crises hídricas, sendo estas cada vez mais presentes e com tendência de aumento no futuro. Água de reúso é sinônimo de sustentabilidade e gestão dos recursos hídricos

Referências

Moura, Priscila Gonçalves et al. Água de reúso: uma alternativa sustentável para o Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental [online]. 2020, v. 25, n. 6 [Acessado 30 Novembro 2021] , pp. 791-808. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-4152202020180201


Fonte: Hidroplan

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