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Sumário da água

Blog da REBOB

A Elegância da Água e do Feminino e os Caminhos de transformação da Mineração

Natalia Ulhôa Freitas e Silva



A elegância é a qualidade de deixar quem está a sua volta à vontade. De forma harmônica, a pessoa elegante expressa bom gosto na fala, na escrita e nos gestos. Saber escutar o próximo e respeitar as diferenças é elegância aliada à inteligência emocional. Igualmente, a conexão com a natureza e a simplicidade expressam um alto grau de sofisticação e alinhamento.


A água é um elemento que exemplifica com clareza a elegância. A água se encaixa em diferentes recipientes e ambientes, ela é maleável e segue o fluxo, sabendo quem é e nos espaços que lhe cabem.


A água respeita os seu próprio ciclo e transformações, certa hora ela é nuvem e outra hora ela é mar. Quando cai no solo, infiltra na terra com paciência e aguarda o momento de chegar no rio. A água se mistura com outros materiais e fornece oxigênio e alimento para a vida aquática, ela nutre a vida. É possível perceber suntuosa elegância nas formas e caminhos deste elemento quando está nos corpos d’água. A água brilha quando refletida pelo sol ou a lua, ela é fonte de inspiração e relaxamento.


Em alguns momentos, a água se torna um lençol freático, onde se acomoda graciosamente. Em sua forma pura ela é transparente e, quando necessário, nos mostra as suas impurezas. A água sabe que vale mais que ouro, mas ela não precisa sair falando sobre isto.


A elegância e o feminino também se comunicam. Traços como bondade, empatia, sensibilidade, compaixão e tolerância são tradicionalmente femininos e integralmente presentes nas pessoas elegantes. Homens e mulheres podem se inspirar nas características da elegância e do feminino para se auto aperfeiçoarem.


A elegância está longe de ter relação com a condição econômica de uma pessoa, ela é demonstração de requinte, fineza, gentileza e educação. E estes atributos dinheiro nenhum consegue comprar.


A pessoa elegante expressa leveza e simplicidade com distinção, graça e delicadeza. A falta de elegância é vista diariamente em nossa sociedade, quando, por exemplo, uma pessoa não escuta o próximo, desrespeita as diferenças e não tem uma visão de cuidado com o futuro.


Um exemplo real e recente de deselegância é o que as lideranças e acionistas das minerações estão fazendo no quadrilátero ferrífero mineiro. A região sofre com a ação das minerações há séculos. De acordo com o IBRAM, o estado de Minas Gerais tem 57 das maiores minas em operação no Brasil e um total de 300 minas ativas. A população não quer que novos projetos sejam instalados, em nome da segurança hídrica e ambiental.


Os mineradores, com muita deselegância, desconsideram os apelos populares e tentam passar por cima de tudo, contorcendo as leis ambientais e dos direitos humanos. Ocorre o descaso destas pessoas com a água, a natureza e sua importância em nossas vidas. Além do mais, a gravidade dos acidentes que ocorreram nos últimos anos, tirando centenas de vidas, jamais será esquecida e é uma discussão dentro do âmbito criminal.


A população mineira conhece os impactos de uma mineração em suas vidas: degradação da paisagem, áreas de risco de acidentes, alteração do ciclo hidrogeológicos, degradação do entorno da mineração, estradas cheias de caminhões imundos, pouco retorno social e muitos outros.


Atualmente, a participação da mineração no PIB do estado de Minas Gerais é de aproximadamente 8%, de acordo com o coordenador de meio ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG). Vale lembrar que a maior parte da matéria prima metálica minerada é exportada, o que mostra ineficiência econômica desta atividade. A atividade minerária precisa passar por uma transformação em todos os seus âmbitos e se tornar mais elegante.


A mineração é capaz de seguir caminhos diversos para se transformar: saber se adaptar, inovar, seguir em frente, ouvir apelos populares e respeitar a vontade do povo é correto e alinhado. Olhar para o futuro e reconhecer os impactos de uma atividade é sabedoria e esmero. Os acionistas das minerações podem se beneficiar de decisões mais elegantes, adotando uma visão sistêmica da realidade e assumindo a água como o bem mais precioso. Características femininas carecem ser incorporadas ao meio industrial, abrindo espaço para a empatia e sensibilidade.


A população de Minas Gerais deseja manter suas montanhas intactas e investir em atividades com maior valor agregado. Os mineiros também sabem graciosamente plantar, colher, vender, cuidar, inovar e criar. A mineração não define os mineiros, que querem proteger as áreas remanescentes em nome da qualidade de vida e da segurança hídrica. Com muita elegância e classe, os habitantes do Quadrilátero Ferrífero exigem que as matas permaneçam em pé.


Referência



Natalia Ulhôa Freitas e Silva é uma profissional da regeneração ambiental e social. Atua com sistemas de gestão sustentável da água na Consultoria Ideal Futuro e como professora e treinadora na Escola Ideal. É graduada em engenharia ambiental e especializada em educação no ensino superior. @nataliambiental


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