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Sumário da água

Blog da REBOB

A história de São João Marcos, município do Rio de Janeiro, cidade tombada e destombada em um ano.


Vera Lúcia Teixeira


Mestre do programa de pós-graduação stricto sensu em Gestão eRegulação de Recursos Hídricos - ProfÁgua no polo da UERJ, bióloga com especialização em Saúde Pública , microbiologia , Gestão de Recursos Hídricos


O presente artigo pretende-se apresentar resumidamente a história da cidade de São João Marcos, antigamente localizada na bacia do rio Guandu no estado Rio de Janeiro, que foi tombada por sua arquitetura colonial rara e em apenas um ano sofreu o destombamento para que pudesse construir o reservatório de Lages e aumentar a produção de energia para a metrópole do Rio de Janeiro e desta forma a cidade foi dizimada, sobrando apenas às ruínas e a sua história.


A história de São João Marcos teve sua vida interrompida, sua arquitetura colonial destruída, sua população de aproximadamente vinte mil habitantes dizimada pois não houve planejamento para retirada das pessoas e para que a cidade não fosse destruída.


As pessoas saíam em um dia e no dia seguinte, sua casa era dinamitada, para que não retornassem. Na época, a empresa Light, era a responsável pela desocupação e pelo alagamento da área para produção de energia para a cidade do Rio de Janeiro.


O que causa espanto é que as ruínas da cidade provam é que a cidade foi destruída e evacuada, porém, não havia necessidade, já que mesmo com reservatório de Lajes completamente cheio, a água não chegava à segunda praça como descreve alguns autores.


Destombamento São João Marcos no Rio de Janeiro


Abrindo um parêntese para contar um pouco da história de São João Marcos, sendo descrito por Ana Gabriela dos Santos Oliveira, em seu trabalho de conclusão de curso.


[...] a Light, por outro lado, explicava que o aumento da represa, visava uma maior produção de energia, necessária ao abastecimento de energia da, então, capital do Brasil e de seus arredores, justificava que era praticamente impossível aumentar fluxo de energia sem que a destruição de São João Marcos acontecesse, de acordo com a empresa, somente com maior acumulação das águas seria possível fornecer mais energia. [...] Isso também foi um pedido do próprio Governo Federal para melhorar o abastecimento elétrico da cidade do Rio de Janeiro, frente ao diagnóstico e solicitação do poder público, a Light então confirmou que não haveria outra solução técnica, senão inundar a cidade de São João Marcos. Mesmo que no livro do SPHAN constasse que a cidade tinha sido registrada como “raro exemplo intacto de conjunto de arquitetura colonial”, ela foi destombada por Getúlio Vargas por meio do Decreto nº 2269 de 03 de junho do ano de 1940, um ano após o registro de seu tombamento. (Oliveira, 2016, p.21,22)


A cidade foi tombada em um ano e destombada no ano seguinte mesmo com registro de arquitetura colonial rara.


A cidade chegou a ter 20 (vinte) mil habitantes, sendo 8000 escravos no período áureo do café, porém com a queda do café e abolição da escravatura a cidade sofreu a decadência de todas que viviam da monocultura cafeeira.


O mais interessante para registro, é que apesar disso, a cidade foi dizimada, mesmo tendo uma belíssima arquitetura, sua população, fazendas, igrejas, teatro e o comércio. Esta destruição não era necessária, o que suscita muito debate se era necessário que a cidade fosse evacuada e dizimada todas as suas estruturas e sua população.


Por este contexto, fica a pergunta: Por qual motivo a empresa LIGHT com apoio do Governo Federal fez isto?


“Dentro do processo de desocupação das casas, os moradores indenizados pela Light foram retirados com certa urgência da localidade o transporte foi disponibilizado pela Light. Logo as casas iam sendo demolidas pelos operários em seguida queimadas.” (Oliveira, 2016, p.22).


A forma como ocorreu todo este processo, a rápida evacuação, a demolição, algumas estruturas foram dinamitadas e esta ausência de planejamento demonstra que como isto pode gerar danos.


Mesmo que a cidade tenha sido tombada pelos órgãos competentes ao reconhecerem a importância histórica da cidade, provavelmente o poder econômico tenha falado mais alto e determinou a destruição de uma cidade como nos descreve Oliveira.


[...]Frente ao ocorrido em São João Marcos uma série de questões podem ser levantadas, dentre elas interessa saber como uma localidade com comprovado valor histórico e cultural pode ser tombada como patrimônio histórico e pouco mais de um ano após seu tombamento ser destombada? Como os interesses de alguns grupos se sobrepõem ao dos outros? E finalmente qual o papel do estado no planejamento, execução e gestão de uma política pública? [...] Em linhas gerais, é possível analisar que a falta de comprometimento e envolvimento do Estado em questão de políticas públicas pode gerar danos irreparáveis à sociedade. O esforço dos moradores do município, comprometidos com a conservação do patrimônio e da historia do município e de diversas famílias frente à ameaça iminente de destruição da cidade foi em vão, quando o presidente da republica autoriza o destombamento e posteriores inundações da cidade. O que se perdeu em São João marcos, foi muito mais do que o patrimônio histórico, foi a historia e raízes de pessoas que tinham no município sua referencia. Enquanto o município de São João Marcos era denominado como uma cidade de importância nacional através dos critérios que o SPHAN observou para tombar, naquela época o governo demonstrava bastante interesse em querer resgatar a história nacional e construir uma sociedade tendo patrimônios que mostravam unidade entre a história e o presente do país. Mas existiu um porém pra essa idealização se concretizar. A partir do momento que a cidade de São João Marcos estava, aparentemente, no caminho para o progresso econômico nacional, esses critérios que eram importantes para manter a história da cidade foram esquecidos e Getúlio Vargas na hora da decisão de destombar o município não levou em consideração toda a opinião expressada pelo SPHAN sobre os pontos negativos que levavam o instituto ir contra a esse destombamento. [...] (Oliveira, 2016, p24.25)

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