Áurea Andréa
Regina de Lourdes da Silva
Em agosto de 2009, no município de Paracambi, região metropolitana do Rio deJaneiro, no acampamento Marli Pereira da Silva, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), agricultoras se reuniram na luta pela terra e pela necessidade de geração de renda e autonomia.Na busca por mais espaços de formação, as agricultoras participaram de oficinas e intercâmbios oferecidos por instituições parceiras, como a Escolinha de Agroecologia de Nova Iguaçu, realizada pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Durante a reunião preparatória para o III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que ocorreu em 2014 em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, o grupo conheceu a organização comunitária Verdejar Socioambiental, que tem atuação nos complexos de favela na Serra da Misericórdia, zona norte da cidade. Lá, elas conheceram a chaya, uma planta alimentícia não convencional (PANC) com enorme valor nutricional e originária da América Central trazida para o Brasil. Com a estaca da planta na mão, que receberam de presente durante a visita, voltaram para o acampamento e começaram seu cultivo, o que transformou a história do coletivo. Foi assim que nasceu o Empório da Chaya.
Aos poucos, o território que passava por um período de seca e com pouca produção, foi sendo tomado pela planta que se adaptou muito bem. As mulheres decidiram aproveitar a Chaya elaborando diversas receitas para comercializar a produção durante a edição de 2015 da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes. A feira é organizada pelo MST e realizada todo final de ano no Largo da Carioca, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. A participação na feira proporcionou uma visibilidade que não era esperada, principalmente por conta da diversidade de receitas com uma planta pouco conhecida.
As integrantes do Empório da Chaya começaram a conquistar novos espaços de comercialização e divulgação da sua produção. Elas foram convidadas a participar do programa de televisão Amor de Cozinha do canal Futura, apresentado pela chef e fundadora do Favela Orgânica, Regina Tchelly. Em seguida, ganharam o prêmio Consulado da Mulher, direcionado a coletivo de mulheres empreendedoras. O prêmio permitiu a compra de eletrodomésticos, com os quais, equiparam a cozinha do acampamento.
Com a ascensão do coletivo e aumento da demanda da produção, surgiu à necessidade de encontrar mais espaço para o trabalho de cozinha e culinária das mulheres, trabalho que vinha sendo realizado na beira da estrada. Arrendaram um lote próximo ao acampamento e lá implementaram uma agrofloresta com cultivo de espécies já utilizadas nas receitas do Empório e outras para o abastecimento das famílias acampadas.Porém, ainda nesse espaço, surgiram dificuldades com relação à infraestrutura, como por exemplo, o acesso à água. Dessa forma elas procuraram mais um lugar que pudesse apoiar a produção em períodos de seca.
Assim, as mulheres se organizaram no sítio Recanto do Sabiá, que fica no bairro BNH, na serra de Engenho Gurgel, em Paracambi. É conhecido como local turístico por ser perto da Pedra do Gavião, também naquela cidade. Nesse novo espaço, o coletivo cresceu: somaram-se às mulheres moradoras do Gurgel, e juntas, cultivaram Chaya, criando receitas e novos produtos para o Empório da Chaya.
Atualmente o Coletivo de mulheres está localizado na Estrada de Jaceruba, n° 991, município de Nova Iguaçu, fazenda Renascer, pertencente à Marli Bernardo (in memória) e herdeiros. O Coletivo foi convidado pela coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) para uma parceria e possível doação para construção do espaço agroecológico e futura agroindústria. É nesse local, que as mulheres da Chaya prosseguem com o cultivo e produção, mas a situação da terra nessa localidade ainda está muito incerta, aguardando uma definição.
Hoje, o Coletivo é composto por: Áurea Andréa; Romilda; Marina; Rosangela; Regina de Lourdes; Regina Baldez; Regina Ramos; Maria Sônia; e Irani, além de outras companheiras que ficaram em Paracambi, mas devido à distância e a falta de recursos não conseguem ter uma participação mais ativa. A grande questão é que elas ainda estão em busca do seu chão de terra para fincar raízes a partir do objetivo do Coletivo: Levar conhecimento as mulheres do campo e cidade, através das plantas alimentícias não convencionais, através da capacitação na identificação e beneficiamento para geração de renda e aproveitamento integral dos alimentos, promovendo saúde, boas práticas e educação ambiental de forma Agroecológica.
As referências para a produção são muitas, desde sucos oferecidos nas visitas de intercâmbio que participaram durante sua trajetória, até as receitas de programas de televisão que são vistas e adaptadas. Áurea Andréa, liderança comunitária e uma das fundadoras do Empório conta: “A gente ainda continua na luta pela terra de alguma forma, porque todas nós ainda temos o sonho de ter a nossa propriedade e trabalhar nela, viver dela, e estamos lá nessa luta com as novas mulheres, com novas perspectivas, novos objetivos, e esse é um pouco da nossa história. As primeiras receitas com a Chaya foram criadas para a participação na feira, mas hoje vendemos em vários outros espaços como a feira de Nova Iguaçu, de Paracambi, Seropédica. Em um momento de crise hídrica e que havia demanda de produtos, a Chaya foi uma alternativa para o nosso coletivo de mulheres”.
O Empório da Chaya oferece cerca de treze Produtos da Gente: geléia; picles; folhas in natura; sucos de chaya e zebrina; bolo de cenoura com chaya; bolo de cenoura com ora-pro-nobis; bolo de puba com chaya; pão vegano de chaya e ora-pro-nobis; crepioca de chaya; broinhas de chaya; pão de beijo com chaya; hambúrguer de banana verde com chaya; manjar de coco com chaya.
Para além das receitas, as mulheres do Empório da Chaya ainda oferecem oficinas sobre o uso das plantas e promovem atividades de ecoturismo local. Além disso, elas se articulam em redes, contando com a parceria de outras instituições que somam na construção de ações em prol da segurança e da soberania alimentar, da luta pela terra e do protagonismo das mulheres através da Agroecologia.
Áurea Andréa - É dona de uma criatividade pulsante. É agricultora, culinarista e artesã autodidata. Integrante por 13 anos do acampamento Marli Pereira da Silva, exerceu o papel de animadora do grupo de mulheres e foi a coordenadora política. Idealizou o coletivo Empório da Chaya, através do qual segue na luta pela terra e pela segurança e soberania alimentar.
“Sou da ocupação desde 2009, na fazenda Rio Novo em Paracambi no km 9. Fundamos o coletivo em 2015, mesmo ano em que fizemos pela primeira vez a feira Cícero Guedes com o MST. Era um período de seca, não tinha horta nem nada de produção. Mas tínhamos a Chaya. Desenvolvemos três receitas de beneficiamento: o suco, a crepioca e o musse, todos de chaya, e também vendemos as mudas e folhas in natura. Criamos um panfletinho para distribuir, porque as pessoas não conheciam os benefícios. Por meio dos intercâmbios de troca de sementes, saberes e mudas, a gente foi se fortalecendo”.
WhatsApp: (21) 97349-2960
Instagram: @emporiodachaya
E-mail: andrea.styllus36@gmail.com
Regina de Lourdes da Silva - É agricultora, culinarista e feirante do coletivo, participou de feiras na Lapa, Grajaú, Largo da Carioca e até em São Paulo. Integra a luta pela terra há 11 anos no acampamento Marli Pereira da Silva, em Paracambi, e fez parte da criação do coletivo Empório da Chaya.
“Eu participo do acampamento desde 2010, e também estou desde o início da fundação do coletivo. Nosso intuito no início era de ter renda, pois estava todo mundo desempregado, mas hoje é mais que isso: temos um espaço de troca”.
Maria Sônia Freitas Araújo – Agricultora e culinarista, também trabalha no coletivo como feirante e processadora. “Tenho 23 netos, 15 bisnetos, uma família bastante grande”.
Referências:
Empório da Chaya: memórias, histórias e receitas. Texto retirado do caderno realizado pela AS-PTA e o Empório da Chaya, por meio do projeto Agricultura Urbana e Arranjos em mercados locais na região metropolitana do Rio de Janeiro e o apoio da Misereor.
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